A História das Coreias

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Coreia, também chamada Choson, no Sul, é um território localizado na península homônima do Nordeste Asiático que é dividido entre dois Estados soberanos distintos: a Coreia do Norte atualmente governada pelo Kim Jong-un, oficialmente República Popular Democrática da Coreia (RPDC), e Coreia do Sul, oficialmente República da Coreia (ROK). Localizada na Península da Coreia, a Coreia tem fronteiras com a China a noroeste e a Rússia a nordeste e é separada do Japão a leste pelo Estreito da Coreia e pelo Mar da China Oriental.

As coreias (Coreia do Sul e do Norte) antigamente eram uma única coreia.
A Coreia emergiu como uma entidade política singular depois de séculos de conflito entre os Três Reinos da Coreia, que foram unificadas como Silla e Balhae (de 698 a 926). O reino Silla acabou sendo sucedido por Goryeo em 935, no final do período dos Três Reinos. Goryeo, que deu nome a "Coreia" atual, era um Estado altamente culto e criou o Jikji no século XIV. As invasões do Império Mongol no século XIII, no entanto, enfraqueceram bastante a nação, o que obrigou-a à vassalagem. Após o colapso da dinastia Yuan, graves conflitos políticos se seguiram. O reino Goryeo caiu depois de um levante liderado pelo general Yi Seong-gye, que estabeleceu Joseon em 1388.

Os primeiros 200 anos de Joseon foram marcados por relativa paz, pela criação do alfabeto coreano pelo rei Sejong, no século XIV e pela crescente influência do confucionismo. Durante a última parte da dinastia, no entanto, a política isolacionista da Coreia ganhou o apelido no mundo ocidental de "reino eremita". No final do século XIX, o país tornou-se objeto do projeto de dominação do Império do Japão. A Coreia foi anexada como colônia pelo Japão e permaneceu uma parte do Império Japonês até o final da Segunda Guerra Mundial, em agosto de 1945. Até hoje o governo japonês se recusa a admitir a colonização de fato.

Em 1945, a União Soviética e os Estados Unidos concordaram com a rendição das forças japonesas na Coreia, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, deixando a Coreia dividida ao longo do paralelo 38, com o Norte sob ocupação soviética e o sul sob ocupação estadunidense. Estas circunstâncias logo se tornaram a base para a divisão da Coreia pelas duas superpotências, que foi agravada pela incapacidade de chegar a um acordo sobre os termos de independência do país. O governo de inspiração comunista no Norte recebeu o apoio da União Soviética, em oposição ao governo pró-ocidental no Sul, o que levou a divisão da Coreia em duas entidades políticas. Isto eventualmente levou à guerra em 1950, que se tornou conhecida a Guerra da Coreia. A guerra não acabou com um tratado de paz formal, mas apenas com um armistício, fator que contribui para as altas tensões que continuam a dividir a península.

História da Coreia

A história da Coreia pode ser dividida, a princípio, em três partes principais: pré-história e antiguidade, os três reinos da Coreia, e a modernidade. Durante a pré-história, a península da Coreia é povoada pelas primeiras tribos, que se organizam posteriormente em reinos, e durante a antiguidade existe um período de dominação chinesa sobre a região. Após reconquistar a independência, a península fica organizada em três grandes reinos, que dão o nome ao período. A modernidade considera o período em que a Coreia foi disputada pela Rússia e Japão, a dominação japonesa, a divisão das duas Coreias (em Coreia do Sul e Coreia do Norte) e a guerra, bem como o pós-guerra até a modernidade.

Pré-história e Antiguidade

Neolítico

A Coreia foi povoada pela primeira vez, no paleolítico, pelas tribos Tungus, cuja identidade cultural viria a marcar profundamente o território. As amostras de cerâmica mais antigas encontradas na Coreia datam de 8000 a.C., e o período Neolítico começou antes de 6000 a.C., seguido pela Idade do Bronze, por volta de 2500 a.C.. A história da Coreia tem o início ligado à legendária dinastia de Tangun, cujo primeiro rei governou a partir do ano 2333 a.C. Esse primeiro reino, com capital em Pyongyang, durou 12 séculos e dele se conservam alguns monumentos, altares e tumbas. Chegou ao fim em 1122 a.C., após a invasão chinesa que, encabeçada por Kija, estendeu-se por toda a península coreana até parte da Manchúria (nordeste da China). O reino de Kija ficou conhecido com o nome de Choson ("sossego da manhã", "terra tranquila" ou "bela manhã"), chegando a se estender da península até a Manchúria. Kija foi sucedido por monarcas coreanos, como Yi Pyong-do, até que um de seus descendentes foi derrotado pelo usurpador Wiman, em 194 a.C..

A influência chinesa, já forte, aumentou com as conquistas e colonização dos Han do oeste, em 108 a.C.. Após dominar a Coreia, o imperador chinês Wudi (Wuti) subdividiu o país em quatro colônias organizadas de forma hierárquica e centralizada, segundo a concepção confucionista do Estado. Neste meio tempo, os Estados do sul da Coreia agiam como uma ponte entre o continente e o Japão. Pouco a pouco, a aristocracia coreana recuperou o poder sobre o país, que formalmente continuou submetido à soberania chinesa. Os coreanos, porém, haviam adotado o uso de metais trabalhados, o que, junto com outros avanços técnicos e sociais, situava sua civilização entre as mais desenvolvidas da Ásia oriental, depois da China.


Mapa dos três reinos: Silla ,Koguryo e Paikche. Na costa sul existia um quarto Estado, chamado Kaya.

Três Reinos

Em 57 a.C. foi fundado o reino de Silla, no sudeste da península, e, em seguida, surgiram os reinos de Koguryo (Kogurio ou Goguryeo), no norte e o de Paikche (Paekche), no sudoeste. Na costa sul existia um quarto Estado, chamado Kaya. Em torno do século IV o budismo alcançou a Coreia. Nesse período histórico, conhecido como o dos três reinos, ocorreram diversos conflitos pelo domínio da península. Os três reinos competiam entre si, econômica e militarmente. Num primeiro momento, o reino de Koguryo foi o mais poderoso, especialmente depois que repeliu os ataques chineses nos anos 313 e 314 da era cristã, mas foi derrotado quando o reino Silla aliou-se aos Tang. O reino de Silla, com o apoio dos chineses, conseguiu derrotar o reino de Paekche no ano 660 e o de Koguryo em 668, acabando por unificar a Coreia, cobrindo a maior parte da península, enquanto o ex-general de Koguryo, Dae Jo-Yeong, fundou Balhae. Silla tornou-se um Estado tributário da China e governou a Coreia unificada por 200 anos.

Koguryo
Koguryo foi fundado em 37 a.C, por Jumong, e posteriormente Taejo unificou o governo da região. Koguryo foi o primeiro dos três reinos a adotar o budismo como religião oficial.

Koguryo alcançou seu auge no século V, se tornando uma das maiores potências do leste asiático, quando Guangaeto, o Grande expandiu o território, anexando quase toda a Manchúria, partes da Rússia e da Mongólia. Koguryo viveu um período de grande prosperidade com Guangaeto e Jangsu, seu filho, que subjulgaram Silla e Baekje, alcançando uma breve unificação dos três reinos.

Koguryo foi um estado altamente militarista; além da disputa pelo controle da península coreana, Koguryo entrou em diversos conflitos com dinastias chinesas, como na guerra Koguryo-Sui, na qual uma força Sui (possivelmente com mais de um milhão de homens) foi derrotada, contribuindo para a queda da dinastia.

Em 642 d.C., o general Yeon Gaesomun liderou um golpe e se tornou o governante de Koguryo. Em resposta, o imperador chinês Tang Taizong liderou uma campanha contra Koguryo, mas foi derrotado. Seu filho, o imperador Tang Gaozong se aliou com Silla e invadiu Koguryo novamente, mas foi derrotado em 662. Porém, Yeon Gaesomun morreu em 666, levando a disputa pelo poder e enfraquecimento do reino de Koguryo. Em 667, a aliança de Tang e Silla organizou uma nova invasão, e o reino de Koguryo foi conquistado em 668.

Baekje
Baekje foi fundado por Onjo, o terceiro filho do fundador de Koguryo, em 18 a.C.. O Sanguo Zhi cita Baekje como um membro da confederação Mahan, na bacia do rio Han (próximo da atual Seul). O reino anexou as províncias de Chungcheong e Jeolla no sudoeste da península, e se tornou militar e politicamente importante na região. No processo, Baekje entrou em forte confronto com Koguryo e com colônias chinesas na região.

No seu ápice, durante o reinado de Geunchogo no século IV, Baekje absorveu todos os estados da confederação Mahan e conquistou a maior parte do oeste da península coreana, criando um governo centralizado. Baekje teve acesso a cultura e tecnologia chinesa, por meio de rotas marítimas estabelecidas durante sua expansão territorial. Baekje foi uma grande potência marítima; seu desenvolvimento náutico foi essencial na disseminação do budismo pela ásia oriental e da cultura do continente no Japão.

Período Posterior dos Três Reinos

Entre os anos 980 e 935, os três antigos reinos ressurgiram na península. Um dos grupos de rebeldes camponeses que se organizaram para vencer o reino de Silla, dirigido por Wang Kon, criou em 918, no Norte da península, o reino de Koryo ("alto e belo"), de onde procede o nome da Coreia.
No ano de 935, com a abdicação do último rei de Silla, a península coreana foi reunificada pelo reino de Koryo, cujos limites, em 993, alcançaram o Rio Amnok, na fronteira com a China. A nobreza civil é retirada do poder por um golpe militar em 1170, tendo o regime militar durado 60 anos. O florescimento de Koryo teve lugar durante o século XII. Sua fé budista inspirou muitos ganhos no campo da literatura, das artes e ciências. Entretanto, a médio prazo, a dinastia Koryo é debilitada no seu poder político pela ascensão do clero budista e, mais tarde, pelas incursões dos mongóis, que utilizaram a península como base militar para preparar ataques à China e ao Japão. Um período de guerra civil terminou com a supremacia do reino Koryo.

Os Mongóis invadiram a Coreia em 1231, dando início a um período de 30 anos de lutas. Os mongóis foram muitas vezes distraídos pelas suas batalhas na China e em outros lugares, mas, finalmente, levaram à península um poderio militar tal que os Koryo aliaram-se aos invasores em 1258. Sob os mongóis, Koryo manteve sua cultura única e tentou demonstrar sua superioridade em relação aos conquistadores através de um surto de realizações artísticas. Em 1392, seguindo-se à queda da dinastia de Yuan, o general Yi Song-gye (Yi Songgie), apoiado pelos Ming, tomou o poder. Começava o período da dinastia Yi (dita também dinastia Li ou Choson), que perdurou até 1910, data da anexação ao Japão.

Sob a dinastia Yi (de 1392 a 1910), a Coreia foi fortemente influenciada pela China dos Ming no campo político e cultural. Os soberanos Yi promoveram a reforma agrária, reforçaram a centralização administrativa, construíram uma nova capital em Seul e estabeleceram o confucionismo como religião oficial, substituindo o amplamente degenerado budismo, que foi proibido. A Coreia tornou-se um importante centro do saber, o que foi possível em razão da invenção dos tipos móveis e da técnica de impressão por xilogravura por volta do ano 1234. O rei Sejong, o Grande, (de 1418 a 1450) promulgou o hangul, o alfabeto coreano.

A partir do final do século XV, a administração foi enfraquecida por disputas facionárias. O grande teste da dinastia Yi teve início em 1592, com a invasão pelos japoneses que, liderados por Hideyoshi, ostensivamente pretendiam conquistar a China. Não obstante os seis anos de lutas com os exércitos samurais terem deixado grande parte da península coreana devastada, enfraquecendo o Estado, os japoneses foram obrigados a recuar, pois suas frotas não conseguiram manter o controle sobre as rotas marítimas de suprimento e reforços provenientes do Japão. O grande almirante coreano Yi Sun-Shin derrotou os japoneses no mar. A grande chave para as vitórias navais coreanas foram os inovadores navios tartaruga, as primeiras embarcações couraçadas resistentes a canhões. Os japoneses não tinham resposta à altura para aquelas lentas, mas poderosas armas.

Pouco depois os manchus (dinastia dos Qing da China) a invadiram e logo a Coreia tornou-se um Estado vassalo da China (1637). A dinastia Yi continuou somente com o apoio dos Qing. Relutantes em considerar mudanças, eles devotavam-se mais ao confucionismo do que os próprios chineses. Em 1897, o Reino foi rebatizado de Império Coreano (de 1897 a 1910), e o rei Gojong foi proclamado imperador. Durante os séculos XVII e XVIII, as mudanças esgotaram o sistema político e social dos Yi, que no século XIX começou a desmoronar.

Modernidade

No século XIX, a Coreia tornou-se objeto de intensa rivalidade entre Rússia e Japão. Aberta ao comércio japonês em 1876, foi envolvida nas guerras sino-japonesas (de 1894 a 1895), sendo-lhe garantida a independência em 1895 pelo Tratado de Shimonoseki, o suficiente para que virasse campo de batalha durante a guerra Russo-Japonesa (de 1904 a 1905). Em 1905, o Japão, que eliminara os Qing na Coreia, forçou a Coreia a assinar o Tratado de Eulsa, transformando o país em um protetorado japonês. Em 1910, as tropas japonesas ocuparam a Coreia, transformando-a em colônia, embora o tratado não fosse considerado juridicamente válido.

A partir da anexação, a sociedade e os costumes coreanos modificaram-se profundamente, a indústria e a economia integraram-se por completo no sistema de produção japonesa e verificou-se um acelerado processo de expansão. O japonês tornou-se a língua oficial e as tropas de ocupação sufocaram todas as tentativas de rebelião.

A reação nacionalista foi tímida e demorada, até que, em 1º de março de 1919, centenas de milhares de coreanos manifestaram-se contra a dominação nipônica. As autoridades japonesas responderam com violência. Cerca de 23 000 pessoas morreram ou foram feridas e efetuaram-se quase cinquenta mil detenções. Formou-se um governo coreano no exílio, com sede em Xangai, com o apoio expresso do governo americano.

Ainda que a ocupação japonesa perdurasse até o fim da Segunda Guerra Mundial, desde a Declaração do Cairo de 1943, assinada pelas potências aliadas e a China, estava prevista a independência da Coreia, com o propósito de acertar a rendição das tropas japonesas. O governo no exílio transferiu-se para Chongjin, enquanto tropas coreanas lutavam contra o Japão ao lado de chineses nacionalistas e comunistas.

Pouco antes do fim da guerra no Pacífico, na Conferência de Potsdam de 1945, os aliados, junto com a União Soviética, reafirmaram o que havia sido decidido no Cairo. Em 12 de agosto, os soviéticos invadiram o norte da Coreia, alcançando o paralelo 38. Com o final da guerra, a Coreia foi dividida em zonas de ocupação. A parte setentrional ficou submetida à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas , que instalou no território sua organização comunista. Ao sul do paralelo 38 N, a reconstrução, em bases capitalistas, foi organizada pelos Estados Unidos.

Em 1947, uma equipe de especialistas enviada pela Organização das Nações Unidas (ONU) redigiu um relatório em que aconselhava o começo de um processo de reunificação do país, a que a União Soviética se opôs. Em agosto de 1948 fundou-se a República da Coreia (Coreia do Sul). Seu presidente, Syngman Rhee, pretendia ter jurisdição sobre todo o país, mas um mês depois foi proclamada em Pyongyang a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte), governada por Kim Il Sung, herói da resistência à ocupação japonesa. Graves tensões internas e planos de reunificação e levaram à invasão do sul pelo norte comunista o que deu inicio a Guerra da Coreia (1950-1953), que sofreu pesada intervenção das Nações Unidas e dos EUA, apoiando a Coreia do Sul, e da China Comunista, apoiando a Coreia do Norte. O Tratado de Panmunjon, celebrado em 1953, veio pôr fim à guerra, sem que nenhuma das partes saísse vencedora. A restauração da paz devolveu a fronteira ao limite anterior à guerra, mas as tensões permaneceram, até um acordo assinado pelos dois governos em julho de 1972, marcando as bases para uma possível reunificação no futuro. Ao mesmo tempo,os dois países foram reconhecidos pela ONU.

Até 1985, a Coreia do Sul foi um estado autoritário e repressivo, abalado por uma sequência de golpes de Estado e gigantescas manifestações populares no mesmo ano foram marcadas as primeiras eleições legislativas da história do país. No ano seguinte,Seul sediou os Jogos Asiáticos de 1986 e desde então o país já sediou duas edições dos Jogos Olímpicos,três edições dos Jogos Asiáticos e três vezes a Universidade, além de outros eventos esportivos de grande porte Atualmente, está numa fase de liberalização, crescimento econômico e expansão, com a sua imagem reforçada pela organização do Mundial de Futebol de 2002, com boas prestações da sua seleção nacional e com as tentativas de aproximação à Coreia do Norte. Em 2003, Roh Moo-hyun tornou-se Presidente da República, sucedendo Kim Dae-jung. Atualmente, o país é governado por Moon Jae-in. No Norte, Kim Il Sung manteve-se no poder até 1980, ano em que lhe sucede o seu filho, Kim Jong-il. Em 1988, a Coreia do Norte recusou-se a participar das Olimpíadas de Seul, realizadas na Coreia do Sul. Kim Jong-il faleceu em dezembro de 2011, aos de 69 anos, sendo sucedido pelo filho mais novo, Kim Jong-un.

Em 1990, o diálogo das duas Coreias para a reunificação passou a ter avanços significativos. Entretanto, em 1993, a possibilidade de a Coreia do Norte fabricar armamento nuclear provocou tensão entre os dois países. Em 2000, ocorreu a primeira reunião dos chefes de Estado da Coreia do Sul e da Coreia do Norte, em que se discutiu a reunificação dos países.

Guerra da Coreia

A Guerra da Coreia, "Guerra de Libertação da Pátria"; de 25 de junho de 1950 a 27 de julho de 1953) foi um conflito armado travado entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul, no contexto macro da Guerra Fria. As Nações Unidas, com os Estados Unidos como sua principal força, vieram em ajuda aos sul-coreanos. A China, por sua vez, interveio em favor do norte, com a União Soviética lhes dando apoio logístico e político.

A Coreia foi governada pelo Japão desde 1910 até o final da Segunda Guerra Mundial. Em agosto de 1945, os soviéticos declararam guerra contra os japoneses, como resultado de um acordo feito com os Estados Unidos e libertaram o norte do Paralelo 38. Tropas estadunidenses, logo em seguida, se moveram para ocupar o sul da península. Em 1948, como resultado do início da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética, a península coreana foi dividida em duas regiões, com governos separados. Representantes da zona sul (capitalista, de influência americana) e da zona norte (comunista, de influência soviética) afirmavam, cada um, ser o legítimo governo da Coreia, e nenhum lado aceitava as fronteiras da época como permanentes. O conflito escalou para uma guerra aberta total quando os norte-coreanos, apoiados belicamente pelos soviéticos e chineses, invadiram o sul, em 25 de junho de 1950. Naquele período, o Conselho de Segurança das Nações Unidas reconheceu isto como uma invasão ilegal e exigiu um cessar-fogo. A 27 de junho, o Conselho da ONU aprovou a Resolução 83, condenando a invasão e despachando uma tropa sob a bandeira das Nações Unidas para restabelecer a paz na península coreana. Cerca de vinte e um países comprometeram forças militares para a missão da ONU, sendo que 88% desses soldados eram, na verdade, americanos.

Após dois meses de guerra, parecia que a Coreia do Sul iria ser sobrepujada pelos norte-coreanos. Contudo, as forças da ONU, compostas principalmente por tropas dos Estados Unidos, detiveram os comunistas no perímetro de Pusan. Em setembro de 1950, os Aliados lançaram uma contra-ofensiva em Incheon e impuseram um grande revés ao exército da Coreia do Norte. Utilizando de sua superioridade bélica e de recursos, os Estados Unidos e seus aliados continuaram a forçar o recuo dos norte-coreanos até além de suas próprias fronteiras, o que levou a China a agir, mandando os seus exércitos cruzarem o rio Yalu, entrando oficialmente na guerra em favor do norte. Isso forçou as forças da ONU a recuar.

A intervenção chinesa acabou levando a guerra a um impasse. A cidade de Seul, capital da Coreia do Sul, por exemplo, trocou de mãos quatro vezes. Assim, os dois últimos anos do conflito se arrastaram numa guerra de atrito, com as linhas de frente se mantendo relativamente firmes no Paralelo 38. A guerra no ar, contudo, continuou intensamente disputada. Enquanto os Estados Unidos submetiam as cidades norte-coreanas a bombardeios aéreos constantes, os céus sobre a península coreana viram intensos combates, especialmente entre caças a jato (a primeira vez que isso aconteceu na história). Pilotos de todo o mundo comunista lutaram ao lado do norte, enquanto pilotos ocidentais (a maioria americanos e Europeus) apoiavam os sul-coreanos. Algumas das maiores batalhas aéreas aconteceram na chamada "Alameda dos Migs", onde dúzias de aviões foram perdidos, por ambos os lados.

A luta se arrastou por três anos até que, em 27 de julho de 1953, um armistício foi assinado. O acordo firmou a Zona Desmilitarizada da Coreia a fim de separar o Norte e o Sul, e permitiu a troca de prisioneiros. Contudo, nenhum tratado de paz formal foi assinado entre as partes envolvidas, o que faz com que as duas Coreias estejam, tecnicamente, ainda em guerra. Desde então, ambos os países continuam com provocações mútuas e até atos de violência, com os governos nutrindo muita animosidade um pelo outro. Em abril de 2018, os líderes das duas Coreias se reuniram na Zona Desmilitarizada e concordaram em trabalhar para assinar um tratado de paz para encerrar oficialmente a guerra.

Contexto

Ocupação japonesa (de 1910 a 1945)

Após derrotar a Dinastia Qing na Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894–96), o Império do Japão ocupou militarmente a Coreia – uma península estratégica na "esfera de influência" regional. Uma década mais tarde, os japoneses derrotaram a Rússia Imperial na Guerra Russo-Japonesa , e tornaram a península coreana seu novo protetorado, pelo Tratado de Eulsa, em 1905, e então assinaram o tratado de Anexação Japão-Coreia em 1910.

A Coreia ocupada era considerada parte do Império japonês como uma colônia industrializada, como parte da Esfera de Coprosperidade da Grande Ásia Oriental. Em 1937, o governador da Coreia, o general Jirō Minami, iniciou um processo de assimilação cultural dos 23,5 milhões de coreanos ao banir o uso e o ensino da língua local, proibindo a literatura nacional e promovendo a repressão cultural, implementando à força na sociedade coreana os ensinamentos e tradições japonesas. Em 1939, a população passou a ser obrigada a adotar nomes japoneses sob a regra Sōshi-kaimei. Em 1938, o governo colonial instaurou programas de trabalho forçado.

Durante a Segunda Guerra Mundial, os japoneses usaram a comida, a pecuária e metais coreanos no esforço de guerra. A presença militar japonesa no país aumentou de 46 000 soldados em 1941 para 300 000 em 1945. O Japão alistou 2,6 milhões de coreanos como força de trabalho. Cerca de 723 000 pessoas foram enviadas para trabalhar em territórios ocupados pelos japoneses no exterior. Em 1942, homens coreanos passaram a ser alistados à força pelo exército imperial japonês. Em janeiro de 1945, os coreanos eram cerca de 32% da força de trabalho japonesa. Em agosto, quando os Estados Unidos lançaram bombas atômicas contra as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, cerca de 25% dos mortos eram coreanos. No fim da guerra, as potências mundiais não mais reconheciam a legalidade da ocupação japonesa sobre a Coreia e sobre a ilha de Taiwan, outro protetorado japonês.

Invasão soviética-americana (1945)
Em novembro de 1943, em uma conferência realizada no Egito, a República da China, o Reino Unido e os Estados Unidos decidiram que "a Coreia se tornaria uma nação independente após a guerra".[20] Na Conferência de Ialta, feita em fevereiro de 1945, foi acertado que o país entraria para a "zona de influência" soviética, em troca do apoio destes na guerra contra o Japão. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, o Exército vermelho ocupou boa parte do norte da península coreana, como havia sido acertado em acordo com as potências ocidentais e em 26 de agosto de 1945, mas detiveram seu avanço no paralelo 38 e esperaram a invasão americana no sul do país.

Em 10 de agosto de 1945, com a derrota japonesa próxima, os americanos duvidavam se os soviéticos iriam honrar os acordos da ocupação da Coreia. Um mês antes, os coronéis Dean Rusk e Charles H. Bonesteel III dividiram a península no paralelo 38, assegurando-se que a zona sul tivesse pelo menos dois grandes portos. Rusk teria justificado o local da divisão no paralelo 38 pois "caso a União Soviética violasse o acordo, a área ocupada pelo exército vermelho estaria ao alcance rápido das forças americanas, era importante colocar a capital da Coreia sob responsabilidade do exército dos Estados Unidos". Os soviéticos aceitaram a demarcação das zonas de ocupação americanas, já que seu foco estava nas negociações com o ocidente sobre como ocupar o leste da Europa e também porque eles aceitariam a rendição japonesa nos termos dela.


Divisão da Coreia (de 1945 a 1949)

Na Conferência de Potsdam (julho–agosto de 1945), os Aliados decidiram, unilateralmente, dividir a Coreia — sem consultar o povo coreano. Em 8 de setembro de 1945, o general americano John R. Hodge chegou em Incheon para aceitar a rendição japonesa no sul do paralelo 38. Apontado como governador militar, Hodge assumiu total controle sobre o sul da Coreia.

Em dezembro de 1945, a Coreia era administrada por uma Comissão Americano-Soviética, como acertado na Conferência de Moscou, ainda naquele ano. Os coreanos foram excluídos de todas as negociações sobre o futuro do país. A comissão decidiu dar independência a península coreana em 1950, depois de cinco anos de ocupação e de esforços para inclinar a população das zonas ocupadas as ideologias defendidas pelas forças estrangeiras de ocupação. A população coreana se revoltou contra tais determinações. No sul, foram reportados enormes protestos nacionalistas e alguns grupos políticos passaram a pegar em armas.

Em 1946 as greves assolaram o país inteiro, além de protestos nas grandes cidades. A desordem civil foi forte durante todo este ano e conduziu a vários levantes populares. Em 1 de outubro de 1946, a polícia matou três estudantes durante uma revolta em Daegu. Manifestantes armados passaram então a visar a policia, matando 38 oficiais de segurança. Em 3 de outubro, cerca de 10 mil pessoas atacaram uma delegacia de polícia em Yeongcheon, matando 3 policiais e ferindo outros 40. Cerca de 20 proprietários de terra e coreanos suspeitos de serem simpatizantes da antiga ocupação japonesa também foram mortos. As forças de ocupação americanas decidiram então decretar lei marcial. Em 3 de abril, uma grande revolta explodiu na Coreia (a Insurreição de Jeju), que terminou com cerca de 60 mil pessoas mortas.

Com a recusa da União Soviética de permitir as Nações Unidas de supervisionar as eleições para uma Coreia unida, em 10 de maio de 1948, a Coreia do Sul convocou sua primeira eleição nacional, a que os soviéticos se opuseram. Em 25 de agosto, foi a vez da Coreia do Norte ter eleições gerais, com apenas um candidato por distrito eleitoral, a afluência às urnas foi relatada de 99,97%, com 98,49% de votos a favor dos candidatos apresentados.

O governo formado no sul após as eleições tinha uma dura linha anti-comunista e aprovou sua nova constituição em 17 de julho de 1948, elegendo o presidente, Syngman Rhee, em 20 de julho. As eleições foram violentas e pelo menos 600 pessoas morreram durante o processo. A República da Coreia (no sul) foi formalmente estabelecida em 15 de agosto de 1948. Na zona de ocupação soviética, o novo governo comunista passou a ser chefiado por Kim Il-sung. O regime do presidente Rhee expulsou os comunistas da vida política do sul. Muitos fugiram para as colinas e pegaram em armas para lutar contra o governo de Seul.

Ambos muito nacionalistas, Syngman Rhee e Kim Il-Sung tinham intenções de reunificar a Coreia sob seu próprio sistema de governo. O Norte recebia apoio incondicional da União Soviética e da China. Tiroteios e confrontos nas fronteiras (que passaram a ser militarizadas) se tornaram comuns. A Coreia do Sul era tremendamente limitada em materiais e recursos. Durante essa era, o governo americano presumiu que os comunistas (independentemente da nacionalidade) eram diretamente controlados ou influenciados por Moscou. Assim, os Estados Unidos viam a guerra civil na Coreia como uma manobra de hegemonia por parte dos soviéticos.

No fim de 1948, os soviéticos retiraram seus exércitos do norte, como era previsto nos acordos feitos com o ocidente. Tropas americanas se retiraram do sul em 1949, deixando as forças militares sul-coreanas despreparadas e mal armadas, ao contrário dos vizinhos do norte que estavam fortemente armados com equipamentos russos.

Guerra

1950 - Primeiras ofensivas

No começo de 1950, Kim Il-sung viajou para Moscou e para Pequim à procura de apoio para a guerra iminente. A União Soviética ficou bastante envolvida com a militarização da Coreia do Norte e seus planos para uma ofensiva contra o sul. Mao Tse Tung transferiu 50 mil soldados do Exército de Libertação Popular de etnia coreana, juntamente com seus armamentos, para a Coreia do Norte. Meses antes dos primeiros ataques do Norte, a Agência de Inteligência americana notou uma enorme mobilização militar por parte das forças armadas da Coreia do Norte, mas pensou que era apenas uma "medida defensiva" e concluiu que uma invasão era "improvável".

Sob o pretexto de estar retaliando supostas pequenas incursões de soldados do sul na fronteira, o exército norte-coreano cruzou a fronteira do paralelo 38, com a proteção de artilharia pesada, em 25 de junho de 1950. Os norte-coreanos haviam declarado que as tropas do exército da Coreia do Sul, sob comando do presidente Syngman Rhee, haviam cruzado a fronteira primeiro e que, por isso, eles pretendiam prender e executar Rhee. As forças armadas de ambos os países já haviam se atacado em pequena escala pela fronteira antes da guerra. A luta começou na península de Ongjin, no oeste, onde os sul-coreanos alegaram ter tomado a cidade de Haeju e rapidamente se tornou em um combate em larga escala por toda a fronteira. Isso levou a crer, para alguns especialistas, que foi o Sul que começou a guerra. A força invasora norte-coreana somava mais de 200 mil homens, enquanto as forças de defesa do Sul tinham ao menos 100 mil soldados.

Em 27 de junho, frente a bem sucedida ofensiva inicial por parte das tropas do norte, o presidente sul-coreano, Rhee, ordenou a evacuação da capital Seul. Antes de fugir, ele ordenou o que ficou conhecido como os Massacres das Ligas Bodo, em 28 de junho, onde pelo menos 100 mil suspeitos de simpatia com o comunismo foram executados sem julgamento.

Em 28 de junho, a Coreia do Sul bombardeou as pontes sobre o rio Han para evitar o avanço das forças do norte. Contudo, Seul foi tomada no mesmo dia. Os norte-coreanos então mataram mais de mil pessoas em um hospital universitário no meio da capital, onde membros feridos do governo do sul estavam. Alguns integrantes do congresso nacional do Sul permaneceram em Seul e 48 declararam lealdade ao regime comunista do Norte.

Resposta da ONU e intervenção americana

O governo do presidente americano Harry Truman se viu numa encruzilhada. Antes da invasão, a Coreia não era considerada importante no panorama de influência da secretaria de defesa dos Estados Unidos. Os estrategistas militares ocidentais se preocupavam mais com a segurança da Europa contra um ataque da União Soviética. Ao mesmo tempo, os americanos se preocupavam com a possibilidade de que uma guerra na península coreana poderia tomar proporções maiores se os chineses ou os soviéticos decidissem intervir militarmente no conflito. Por fim, em 27 de junho, os soviéticos enviaram um comunicado indireto dizendo que não interfeririam na guerra na Coreia, abrindo assim uma brecha para os americanos intervirem com tropas sem reação das demais potências do mundo comunista.

Em 25 de junho de 1950, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou, por unanimidade, a Resolução 82, condenando a invasão da Coreia do Norte contra seu vizinho do sul. Dois dias depois, foi aprovado a Resolução 83 que autorizava uma intervenção militar para por fim no conflito. No mesmo dia, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, autorizou que a força aérea e a marinha americana atacassem alvos na península coreana para apoiar o sul, o que foi condenado pela União Soviética.

O comando da força expedicionária americana ficou a cargo do general Douglas MacArthur. Em agosto de 1950, o Congresso dos Estados Unidos aprovou um orçamento inicial de 12 bilhões de dólares para gastos militares neste conflito. Os americanos também começaram a transportar enormes quantidades de armas e equipamentos para os sul-coreanos.

A batalha pela cidade de Osan foi o primeiro grande combate para as tropas terrestres americanas, mas o pequeno grupo de soldados foi repelido e 180 militares foram mortos, feridos ou capturados. As forças da Coreia do Norte continuaram a avançar para o sul, tomando no caminho a cidade de Daejeon. Os comunistas novamente forçaram o recuo dos sul-coreanos e dos seus aliados americanos na cidade de Pusan. Naquela altura, as forças da ONU controlavam diretamente apenas 10% do território da Coreia do Sul.

Entre agosto e setembro, as forças norte-coreanas foram derrotadas na batalha de Pusan. A força aérea americana então lançou ataques contra linhas de suprimentos e depósitos de munição das forças comunistas, infligindo severas perdas a estes. Ao fim de 1950, os Aliados já se preparavam para lançar um contra-ataque em larga escala.


Ao fim de setembro de 1950, a situação das forças comunistas do norte estava se deteriorando. Com poucos suprimentos, sem suporte aéreo ou naval, o norte não podia mais se manter na ofensiva por muito tempo. Para então quebrar em definitivo as linhas de suprimento inimigas e tentar desviar a atenção norte-coreana da luta em Pusan, o general MacArthur ordenou um ataque anfíbio em larga escala contra a cidade de Incheon. As tropas comunistas na região foram destruídas e os sobreviventes bateram em retirada de forma desordenada. Neste momento, os russos aconselharam o ditador Kim Il-sung a recuar para proteger a capital do sul, Seul. Já os chineses aconselharam um contra-ataque em Inchon. Contudo, os militares norte-coreanos já haviam sofrido pesadas baixas e não tinham condições de continuar a resistir.

Em 25 de setembro, Seul foi recapturada pelos sul-coreanos. Os bombardeios americanos continuaram a causar severos danos nas forças comunistas e a liderança norte-coreana viu-se obrigada a ordenar a retirada precipitada de suas tropas do sul, para defender a capital Pyongyang.[62] Em 27 de setembro, o ditador soviético, Josef Stalin, principal aliado dos norte-coreanos, criticou a ineficácia dos exércitos do norte e também culpou seus conselheiros pelas recentes derrotas dos coreanos.

Logo após as vitórias no sul, MacArthur recebeu autorização do presidente Truman para lançar incursões no norte. Em 29 de setembro, ele declarou reinstaurado o governo da República da Coreia no sul e colocou novamente Syngman Rhee no poder. Após reconquistar o sul, as forças coreanas de Rhee começaram a lançar represálias contra simpatizantes do comunismo, massacrando pelo menos 600 pessoas.

Em 30 de setembro, o primeiro-ministro chinês, Zhou Enlai, ameaçou intervir na guerra em favor do norte se os americanos cruzassem o paralelo 38. Zhou também aconselhou os norte-coreanos a recuar e combater em forma de guerrilha, mas o conselho foi ignorado. Em outubro, as forças comunistas da fronteira do paralelo foram expulsas de suas posições e os sul-coreanos os perseguiram rumo ao norte. Confiante na vitória, MacArthur exigiu a rendição incondicional do norte, mas recebeu uma recusa. A capital do norte, Pyongyang, foi tomada pelas forças da ONU em 19 de outubro de 1950. Percebendo que o momento da guerra agora era dos Aliados, o general MacArthur acreditava que era preciso levar a guerra até a China. O presidente Truman discordou e ordenou que as forças americanas se detivessem na fronteira chinesa-coreana.

Intervenção chinesa

Em 27 de junho de 1950, dois dias antes da invasão norte-coreana e três meses antes da entrada chinesa no conflito, o presidente Truman despachou a Sétima Frota dos Estados Unidos para o estreito de Taiwan, com o propósito de evitar hostilidades entre a República Nacionalista da China (Taiwan) e a República Popular da China. Em 4 de agosto de 1950, com a invasão de Taiwan abortada pelo governo comunista de Pequim, o líder chinês, Mao Tsé-Tung, reportou ao Politburo que ele iria intervir na Coreia quando o seu exército estivesse pronto. A China justificou sua entrada na guerra como sendo uma resposta a "agressão americana sob o disfarce da ONU". Kim Il-sung já havia apelado para Mao para que ele interviesse na guerra em seu favor. Enquanto isso, o ditador soviético, Stalin, disse aos seus conselheiros que seu país não iria interferir na Coreia, mas aprovou o envio de suprimentos aos seus aliados comunistas.

Em 18 de outubro de 1950, Mao ordenou que 300 mil soldados chineses entrassem na Coreia. No dia seguinte, forças da ONU e da China já estavam trocando tiros na região de fronteira. Os soviéticos então decidiram mudar de postura e mandaram, além de mais suprimentos, esquadrões de sua força aérea para realizar ataques em solo coreano. Na batalha de Onjong, as forças sul-coreanas foram massacradas pelos chineses. Em 1 de novembro, soldados da China e dos Estados Unidos travaram seu primeiro combate na guerra na batalha de Unsan, vencida pelos chineses. O comando da ONU, contudo, não acreditava que esta intervenção realmente tinha sido em larga escala ou se ela era séria. Em 24 de novembro, o 8º exército americano lançou uma ofensiva na costa noroeste da Coreia do Norte mas eles foram detidos pelos chineses. No dia seguinte, forças militares dos Estados Unidos, da Coreia do Sul e de alguns países aliados, como o Reino Unido, foram severamente atacadas por tropas chinesas na batalha do rio Chongchon. Neste combate, ambos os lados sofreram pesadas baixas. Os americanos tiveram ao menos 11 mil homens mortos, feridos, desaparecidos ou capturados. Os chineses perderam quase 40 mil homens mas saíram-se vitoriosos e botaram em fuga as forças da ONU, que por sua vez, resolveram recuar para o paralelo 38 e re-estabeleceram uma nova linha defensiva. Ao mesmo tempo o X Corpo do exército dos Estados Unidos foi atacado na região de Chosin Reservoir, onde uma batalha de 17 dias sob frio intenso se seguiu e terminou com mais uma vitória pírrica chinesa. Em meados de dezembro, as forças americanas já haviam se retirado para a fronteira entre as Coreias. Frente ao retrocesso inesperado, o presidente Truman declarou situação de emergência e deu prioridade máxima dos recursos militares disponíveis para a região.

1951 - Combates no Paralelo 38

No ano novo de 1951, os chineses e norte-coreanos lançaram sua terceira ofensiva conjunta. Utilizando de várias surtidas noturnas, os comunistas tentaram cercar as tropas da ONU utilizando sua superioridade numérica. As forças americanas e sul-coreanas foram forçadas por esses ataques a recuar. Ocupados combatendo os chineses, as forças militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul não conseguiram impedir que os norte-coreanos conquistassem Seul pela segunda vez na guerra, em 4 de janeiro de 1951. Frente a uma sucessão de derrotas, o general MacArthur passou a considerar realizar ataques com armas nucleares contra a China e contra a Coreia do Norte. Contudo, com a chegada do general Matthew Ridgway, o exausto 8º exército americano recuperou seus ânimos.

As forças da ONU recuaram até Suwon no oeste, até Wonju no centro e Samcheok no leste, estabelecendo uma nova linha de defesa.

Em fevereiro, o exército chinês lançou a quarta fase de sua ofensiva na Coreia e conquistou o condado de Hoengseong. As forças chinesas não conseguiram avançar além de Seul devido a falta de suprimentos, permitindo que o general Ridgway lançasse um contra-ataque e expulsasse as tropas comunistas das proximidades do rio Han. A quarta ofensiva chinesa foi oficialmente detida em Chipyong-ni, no leste da província de Gyeonggi.

Nas últimas duas semanas de fevereiro de 1951, foi lançada a Operação Killer, encabeçada pelo 8º exército americano e pelo I Corpo de fuzileiros americanos. A ofensiva reconquistou os territórios ao sul do rio Han e o IX Corpo de fuzileiros reconquistou Hoengseong.[86] Em 14 de março, Seul foi recuperada também. A população da capital, que antes da guerra era de 1,5 milhões de pessoas, tinha caído para 200 mil devido as quatro grandes batalhas travadas na cidade durante a guerra. O líder chinês, Mao, pediu então a Stalin mais assistência e o premier soviético respondeu enviando duas divisões aéreas, três divisões de baterias anti-aérea e seis mil caminhões com suprimentos. Apesar dessas medidas, o problema logístico com suprimentos dos chineses continuou.

Em 11 de abril de 1951, o presidente Truman decidiu dispensar o general Douglas MacArthur do cargo de comandante supremo das forças aliadas na Coreia.[87] Vários motivos levaram a essa decisão. MacArthur havia cruzado o paralelo 38 com seus homens sob a impressão errônea de que os chineses não tinham de fato entrado na guerra, o que levou a uma série de derrotas por parte das despreparadas forças aliadas. O general também acreditava que a decisão de usar ou não armas nucleares cabia a ele e não ao Presidente.[88] MacArthur ainda ameaçou destruir a China se ela não se rendesse. Ele também acreditava que a vitória total sobre o inimigo seria a única saída aceitável, mas Truman era mais pessimista sobre as chances de vitória na guerra na Ásia e pretendia eventualmente assinar um acordo de paz e ordenar uma retirada da Coreia. MacArthur foi alvo de uma investigação do congresso em maio e junho de 1951, que determinou que ele havia abertamente desobedecido as ordens do seu presidente e assim violou a constituição dos Estados Unidos.

O general Matthew Ridgway assumiu o comando geral das forças da ONU. Sua primeira atitude foi lançar um pesado contra-ataque no perímetro defensivo dos chineses e norte-coreanos que acabou sendo um sucesso. O general James Van Fleet assumiu o comando do 8º exército americano. Em março de 1951, duas ofensivas aliadas conseguiram infligir pesadas baixas nos comunistas e forçar o seu recuo. Os capacetes azuis avançaram então até o paralelo 38 e cercaram os chineses, destruindo boa parte de seus exércitos. Em abril de 1951, os chineses lançaram uma contra-ofensiva, com quase 700 mil homens na linha de frente. Esse ataque foi detido pelos fuzileiros americanos nas batalhas de Kapyong e do rio Imjin. Em 15 de maio, os chineses tentaram novamente avançar contra as linhas aliadas nas margens do rio Soyang. No dia 20 de maio, as tropas chinesas atacantes já estavam em retirada. Então o 8º exército dos Estados Unidos lançou um ataque contra os chineses e norte-coreanos além do paralelo mas não avançaram muito.

Impasse

A partir de julho de 1951, as forças da ONU e da China continuaram a engajar uma árdua luta de trincheiras, onde nenhum dos dois lados conseguia dar um golpe decisivo sobre o outro. Bombardeamentos aéreos em larga escala contra a Coreia do Norte se intensificaram e então as primeiras negociações de armistício começaram em 10 de julho de 1951. Apesar das negociações, a guerra continuava a todo vapor.[94] Grandes combates foram travados durante esse período, como a batalha de Bloody Ridge e a de Heartbreak Ridge.

1952

Em 1952, uma série de sangrentas batalhas foram travadas e milhares de soldados morreram em ambos os lados, com pouco ganho estratégico, enquanto a situação humanitária nas Coreias piorava. As tropas chinesas e norte-coreanas sofriam com falta de suprimentos e materiais, ainda contando com uma péssima logística com linhas de suprimentos longas e sob constante ataques aéreos dos aliados ocidentais.

1953

O impasse continuou por 1953. Cerca de 4 500 militares chineses morreram no cerco ao posto avançado americano de Harry. Em Kaesong, mais 1 500 chineses foram mortos. Entre março e julho, perto de Cheorwon, forças norte-coreanas, chinesas, americanas, sul-coreanas e de outros países das forças da ONU se combateram em uma sangrenta batalha que acabou em um impasse estratégico e com a morte de mais de 2 mil soldados. A situação dos comunistas prosseguia tensa devido a falta de suprimentos e as enormes perdas sofridas nos combates. Enquanto nenhum dos dois lados era capaz de vencer uma batalha decisiva sobre o outro, as negociações, que já se prosseguiam há quase 24 meses, continuavam. Entre os obstáculos para a paz estava no ponto de como a troca dos prisioneiros de guerra seria feita.

Armistício

A zona desmilitarizada entre as Coreias cortava o país no paralelo 38. A velha capital do país unificado, Kaesong, local onde as negociações do armistício estavam sendo feitas, pertencia à República da Coreia do Sul, mas agora estava sob controle do Norte. O Comando das Nações Unidas, apoiado pelos Estados Unidos, a Coreia do Norte e o Governo chinês finalmente assinaram os termos do armistício em 27 de julho de 1953. Este acordo decretou um cessar-fogo imediato e garantias do status quo ante bellum. A guerra oficialmente acabou neste dia, porém, até os dias atuais, nenhum tratado de paz foi firmado entre as duas Coreias. O Norte, contudo, alega que venceu a guerra. Em abril de 2018, líderes de ambos os países anunciaram intenções de finalmente acertar um acordo de paz entre as duas nações, para encerrar o status de hostilidade na península.

Depois da guerra, a chamada "Operação Glória" (julho–novembro de 1954) garantiu a troca dos corpos dos soldados e guerrilheiros mortos em território adversário. Os restos mortais de 4 167 soldados e fuzileiros americanos foram trocados pelos corpos de 13 528 militares chineses e norte-coreanos, além dos corpos de 546 civis que morreram em campos de prisioneiros da ONU que também foram entregues ao Norte. Estima-se que mais de 1,2 milhão de pessoas morreram na Guerra da Coreia.

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