No dia 12 de junho de 1929 em Frankfurt na Alemanha nasceu uma jovem, ela chamava-se Anne Frank. Anne foi vitima de Holocausto. Tornou-se uma das figuras mais discutidas da história após a divulgação póstuma do Diário de Anne Frank (1947), no qual documentou suas experiências enquanto vivia escondida em cômodos ocultos de uma empresa durante a ocupação alemã nos Países Baixos na Segunda Guerra Mundial. Desde então, passou a ser referida como um "símbolo da luta contra o preconceito" e teve sua história servindo como base para diversas peças de teatro e filmes ao longo dos anos. Em 1999, foi contemplada como uma das pessoas mais importantes do século XX em uma lista organizada pela revista Time. Infância.


Annelies Marie Frank nasceu no dia 12 de junho de 1929 em Frankfurt, Prússia, na República de Weimar, sendo a última filha de Otto Heinrich Frank (1889–1980) e Edith Holländer-Frank (1900–1945). Sua irmã mais velha era Margot (1926–1945). A família Frank eram asquenazitas liberais, ou seja, não seguiam todos os costumes e tradições do Judaismo; desta forma, viviam em uma comunidade assimilada com outros cidadãos judeus e não judeus de diversas religiões. Edith e Otto eram pais dedicados, demonstravam interesse principal em atividades acadêmicas e possuíam em sua residência uma extensa biblioteca; além disso, costumavam incentivar suas filhas a lerem desde cedo. O patriarca da família era um veterano de guerra, tendo servido o Exército Imperial Alemão na Primeira Guerra Mundial; após sua atuação na Batalha de Cambrai, foi promovido a tenente. Após a guerra, Frank e seus irmãos assumiram a propriedade de um banco de negócios na cidade que anteriormente pertencia à seu pai, de onde tirava a maior parte da renda da família, mas o negócio entrou em declínio no início da década de 1930 como um resultado da Grande Depressão.


Em março de 1933, após o Partido Nazista sair vitorioso na eleição federal e seu líder, Adolf Hitler, ter sido nomeado Chanceler da Alemanha, começaram a ocorrer manifestações antissemitas massivas no país, fazendo com que a família Frank começasse a questionar a possibilidade de emigração. Inicialmente, Edith se mudou com as filhas para a casa de sua mãe, Rosa Holländer, localizada em Aachen, cidade que faz fronteira com a Bélgica e os Países Baixos. Otto permaneceu em Frankfurt, mas após receber uma proposta de iniciar uma companhia em Amsterdã, decidiu se mudar para organizar o negócio e arrumar acomodações para sua família. Após iniciar uma filial da Opekta Works, especializada em comercialização da pectina — ingrediente usado na preparação de geleias —, ele encontrou um apartamento em Rivierenbuurt, bairro onde a maioria dos judeus de origem alemã haviam se estabelecido. Edith e Margot foram de encontro ao patriarca da família em dezembro de 1933; Anne, por outro lado, permaneceu com a avó até fevereiro de 1934. A família Frank fez parte do grupo de 300 mil judeus que deixaram a Alemanha entre 1933 e 1939.


Em Amsterdã, as crianças foram matriculadas em escolas: Margot foi para uma instituição pública, enquanto Anne foi para um instituto que praticava o Método Montessori — técnica projetada por Maria Montessori e que foi expressamente proibida no início do Terceiro Reich. Apesar dos problemas iniciais com a língua neerlandesa, Margot se mostrou uma boa aluna com habilidades em aritmética, enquanto Anne se mostrava melhor em história, além de apreciar ler e escrever. Mais tarde, uma de suas colegas de classe, Hanneli Goslar, relembrou que a jovem escrevia com frequência, embora ela protegesse seu trabalho e se recusasse a discutir sobre o conteúdo de sua escrita. As irmãs Frank possuíam personalidades distintas; Margot era educada, tímida e estudiosa, enquanto Anne era sincera, energética e extrovertida.


Em 1938, Otto decidiu expandir seus empreendimentos e dar início à uma nova companhia; intitulada como Pectacon, o negócio seria especializado na comercialização de ervas, sais de decapagem e temperos mistos, usados posteriormente na produção de salsichas. Para dar continuidade ao projeto, Hermann van Pels foi contratado para prestar serviços como consultor de especiarias; assim como Otto, ele havia fugido com sua família após o início das perseguições aos judeus em Osnabruque, na Baixa Saxônia, onde se sustentava desempenhando trabalhos como açougueiro. Ambos tornaram-se bons amigos, as famílias se aproximaram e costumavam organizar reuniões aos sábados para apresentar a cidade aos novos refugiados judeus de origem alemã. No ano seguinte, a avó, Rosa Holländer foi o último membro da família a imigrar definitivamente para os Países Baixos, passando a viver na residência dos Frank. O Diário.


No início de 1942, Anne lidou com o falecimento de sua avó, Rosa Holländer, e começou a frequentar uma instituição de ensino destinada apenas para judeus, passando a ser proibida de ter contato com crianças de outras etnias. Em seu aniversário de treze anos, em 12 de junho, foi presenteada por seus pais com um livro de autógrafos que havia demonstrado interesse anteriormente enquanto passava por uma vitrine; encadernado com um tecido xadrez em vermelho e branco, o material era composto por um pequeno cadeado em sua parte frontal. Anne decidiu que o usaria como diário, nomeando-o como "Kitty", escrevendo pela primeira vez em 20 de junho; embora suas primeiras anotações fossem relacionadas aos aspectos mundanos de sua vida, discutia também sobre mudanças no bairro onde residia, além de listar as diversas restrições impostas sobre a comunidade judaica pelo governo de ocupação nos Países Baixos. Além disso, esboçou em algumas passagens o sonho em tornar-se uma atriz, destacando que assistir filmes era um de seus passatempos favoritos; porém, os judeus foram proibidos de frequentarem as salas de cinema a partir de 8 de janeiro de 1941.


Ao passo em que as perseguições aos judeus tornavam-se cada vez mais frequentes, Otto Frank começou a planejar a mudança de sua família para cômodos ocultos do edifício comercial onde funcionava as instalações de sua filial da Opekta Works. No entanto, em 5 de julho de 1942, Margot Frank recebeu uma notificação do Escritório Central de Emigração Judaica ordenando que ela se dirigisse para um campo de concentração, o que fez com que os planos da família fossem adiantados. Após ser informada do esconderijo, Anne entregou um livro, um jogo de chá e uma lata de bolas de gude para sua vizinha, Toosje Kupers, dizendo: "Estou preocupada com minhas bolas de gude, porque tenho medo que elas caiam em mãos erradas. Você poderia guardá-las para mim por um tempo?". Além disso, a família Frank deixou um bilhete pedindo que os Kupers adotassem o gato da família, Moortje; em um dos trechos do recado, foi plantada pistas falsas que sugeriam que eles haviam se mudado para a Suíça, onde residiam alguns dos parentes de Otto.


Na manhã de 6 de julho de 1942, a família Frank foi em direção ao esconderijo; ao deixar o apartamento, foi criado um estado de desordem nos cômodos para que fosse passada a impressão de que eles haviam deixado o local de forma repentina. Como os judeus eram proibidos de utilizarem transportes públicos, eles precisaram caminhar quatro quilômetros para chegarem até as instalações da companhia; além disso, para não serem pegos carregando malas, vestiram diversas camadas de roupas para que conseguissem transportar o maior número de peças possíveis até a nova moradia. O Anexo Secreto era formado por acomodações ocultas de três andares, com dois quartos pequenos, bem como um banheiro no primeiro andar; sua parte de cima era composta por uma grande sala, com outra menor ao lado — a partir desta menor, havia uma escada que levava em direção ao sótão. Para garantir que o lugar permanecesse desconhecido, sua porta de entrada foi coberta por uma estante de livros que fazia parte de um dos escritórios da Opekta Works.


Entre os funcionários da empresa, apenas Miep Gies, Victor Kugler, Johannes Kleiman e Bep Voskuijl possuíam conhecimento sobre a existência das acomodações ocultas, auxiliando a família com alimentos e outras de suas necessidades rotineiras. Apesar de Jan Gies e Johannes Hendrik Voskuijl não serem funcionários, faziam parte do círculo de confiança dos Frank e desempenharam papéis importantes na sobrevivência da família, principalmente no que dizia respeito aos negócios e informações sobre os desenvolvimentos da guerra e notícias sobre o cenário político. Em algumas passagens do diário, Anne reconheceu a coragem e dedicação do grupo, bem como seus respectivos esforços para mantê-los confiantes durante os momentos de maior perigo. Era de conhecimento dos ajudantes que, se descobertos, poderiam enfrentar a justiça e até serem condenados a pena de morte por abrigarem judeus.


Posteriormente, o esconderijo recebeu novos moradores: em 13 de julho, a família van Pels se instalou nas acomodações; no final do ano, foi a vez de Fritz Pfeffer, dentista e amigo de ambas famílias. Inicialmente, Anne mostrou-se animada por receber novas companhias; no entanto, as tensão rapidamente se desenvolveram dentro do grupo que era forçado a viver confinados em tais condições. Ao longo do período de isolamento, a jovem entrou em diversas discussões com Auguste van Pels, criticando principalmente sua postura "insensata". Além disso, após compartilhar um dos quartos com Pfeffer, começou a considerá-lo "insuportável", ressentindo sua intromissão. Hermann e Pfeffer também eram reprovados por suas atitudes "egoístas", particularmente no que se referia ao consumo de comida dentro do grupo. Apesar de inicialmente tê-lo rejeitado, Anne desenvolveu intimidade com Peter van Pels, com quem deu seu primeiro beijo e iniciou um romance. Por outro lado, sua paixão por ele começou a diminuir depois que começou a questionar se os sentimentos eram genuínos ou resultados de um confinamento compartilhado. Otto relembra que a jovem estabeleceu um vínculo estreito com cada um dos ajudantes, mostrando-se ansiosa por suas visitas diárias, principalmente com a de Bep Voskuijl, com quem ela "costumava cochichar pelos cantos".



Ao passar do tempo no esconderijo, Anne aprimorou sua escrita e passou a examinar sua relação com membros da família, além de enfatizar as fortes diferenças de personalidades de cada um deles. Particularmente, ela se sentia mais próxima emocionalmente de seu pai, Otto Frank, que mais tarde avaliou: "Eu tive um melhor [relacionamento] com Anne do que com Margot, que era mais próxima de sua mãe. A razão para isso talvez seja porque ela raramente mostrava seus sentimentos e não precisava de tanto apoio por não sofrer de mudanças de humor como Anne". As irmãs Frank desenvolveram um relacionamento mais próximo do que havia existido entre elas antes do período de confinamento no Anexo Secreto; por outro lado, Anne costumava expressar ciúmes de sua irmã mais velha, principalmente quando membros do grupo criticavam sua falta de gentileza e tranquilidade, principalmente quando comparada às características da personalidade de Margot. Ao passo em que Anne amadurecia, as irmãs foram capazes de confiarem uma na outra; em 12 de janeiro de 1944, ela escreveu no diário que "Margot estava muito mais agradável" e que caminhava para se tornar uma "verdadeira amiga".


Em diversas passagens do diário, Anne escreveu sobre as dificuldades em seu relacionamento com a mãe, Edith Frank, destacando seu sentimento ambivalente em relação a ela. Em 7 de novembro de 1942, descreveu o "desprezo" que sentia por sua mãe e a sua incapacidade de "confrontá-la com seu descuido, seu sarcasmo e sua dureza de coração", concluindo posteriormente que Edith não significava "uma mãe para [ela]". Por outro lado, em uma revisão sobre trechos anteriores de seu diário, ela demonstrou vergonha por sua atitude radical: "Anne, você realmente demonstrou ódio, oh Anne, como pôde?". A partir desse momento, passou a compreendeu suas diferenças e ponderou que as brigas não passavam de "mal-entendidos", resultados de atitudes de ambas. Além disso, percebeu que isso aumentava o sofrimento de Edith; com essa percepção, passou a tratá-la com um grau de tolerância e respeito por sua figura como mãe.


Embora as irmãs Frank estivessem escondidas, continuaram desempenhando seus estudos e esperavam retornar para a escola assim que a guerra terminasse. Durante o período no esconderijo, Margot realizou um curso a distância de taquigrafia usando o nome de Bep Voskuijl, recebendo notas altas por seus esforços. A maior parte do tempo de Anne foi gasto lendo e estudando, além de escrever e editar (após março de 1944) seu diário com regularidade. Além de narrar eventos à medida em que eles ocorriam, ela descreveu seus sentimentos, suas crenças, sonhos e ambições, assuntos que pensava não poder compartilhar com mais ninguém. Após amadurecer, sua confiança como escritora aumentou gradativamente, passando a escrever sobre assuntos mais abstratos como sua crença em Deus e como ela definia a natureza humana.


Em 5 de abril de 1944, Anne escreveu sobre o seu desejo em tornar-se uma jornalista ou escritora:


"Eu finalmente percebi que devo fazer o meu trabalho escolar para não ser ignorante, para seguir em frente com a vida, para me tornar uma jornalista, porque é isso que eu quero! Eu sei que posso escrever... mas resta saber se eu realmente possuo talento...

E se eu não tenho talento para escrever livros ou artigos de jornal, sempre poderei escrever para mim mesma. Mas quero alcançar mais do que isso. Eu não posso imaginar vivendo como minha mãe ou a senhora [Auguste] van Daan e todas as mulheres que fazem os seus trabalhos e são esquecidas. Eu preciso ter algo além de um marido e filhos para me dedicar!"


"Quero ser útil ou divertir todas as pessoas, mesmo aqueles que nunca conheci. Eu quero continuar vivendo mesmo depois da minha morte! E é por isso que eu sou tão grata a Deus por ter me dado esse dom que posso usar para me desenvolver e expressar tudo o que está dentro de mim!"


"Quando eu escrevo, posso me livrar de todas as minhas preocupações. Minha tristeza desaparece, meus espíritos são renovados! Mas, e essa é uma grande questão, algum dia serei capaz de escrever algo extraordinário, irei me tornar uma jornalista ou escritora?"


Prisão.

Na manhã de 4 de agosto de 1944, a localização do Anexo Secreto foi invadida por um grupo da polícia uniformizada alemã, liderado pelo SS-Oberscharführer Karl Silberbauer do serviço de inteligência Sicherheitsdienst. Desta forma, a família Frank, os van Pels e Fritz Pfeffer foram presos e levados para a sede da RSHA, onde foram interrogados e passaram a noite. No dia seguinte, foram transferidos para a casa de detenção Huis van Bewaring, uma prisão superlotada em Weteringschans. Em 7 de agosto, foram transportados para o campo de concentração de Westerbork onde, naquela época, já havia servido como destino para cerca de 100 mil judeus, principalmente neerlandeses e alemães. Depois de terem sido presos por viverem em um esconderijo, eles foram considerados criminosos e, como consequência, foram enviados para o quartel de punição para realizarem trabalho forçado.


Victor Kugler e Johannes Kleiman foram detidos e encarceradas no campo penal em Amersfoort, considerados como inimigos da Alemanha Nazista. Embora Kleiman tenha sido libertado após sete semanas, Kugler foi transportado para diversos campos de trabalho até o final da guerra. Miep Gies e Bep Voskuijl foram interrogadas e ameaçadas pela policia de segurança, mas não foram presas.[104] Ambas retornaram para o esconderijo, onde encontraram trechos do diário de Frank espalhados pelo chão; após recolherem os papéis, bem como algumas fotografias, elas decidiram que iriam devolver os pertences para Anne após o final da guerra. Em 7 de agosto, Gies tentou subornar Silberbauer para que realizasse a libertação do grupo, mas ele se recusou.


Embora tenha havido alegações persistentes de traição por parte de um informante, a fonte da informação que levou as autoridades a invadirem o Anexo Secreto nunca foi identificada. Em abril de 1944, houve um roubo nas instalações da Opekta Works, onde o vigia noturno Martin Sleegers e um policial não identificado foram chamados para investigar e observaram a estante que servia para esconder a entrada dos cômodos ocultos. No entanto, Buddy Elias — sobrinho de Otto Frank — compartilha a teoria de que o delator do esconderijo tenha sido Tonny Ahlers, um membro do Movimento Nacional Socialista nos Países Baixos. Ahlers sabia que a empresa pertencia a Otto e, no passado, havia entrado em uma discussão pública com ele por conta de divergências sobre as chances de Adolf Hitler em uma provável guerra. Outro suspeito é Wilhelm van Maaren, gerente de estoque da companhia; descrito como "curioso", ele já havia criado armadilhas no edifício para descobrir a existência de pessoas escondidas e, certo dia, perguntou inesperadamente para outros funcionários se anteriormente havia existido um senhor chamado Otto Frank atuando no escritório.


Em 2018, Joop van Wijk — filho mais novo de Bep Voskuijl — desenvolveu uma biografia sobre a mãe e levantou a hipótese de que sua tia, Nelly (1923–2001), pode ser a responsável pela descoberta do esconderijo. De acordo com Wijk, sua tia desaprovava a atuação de sua mãe e seu avô, Johannes Hendrik Voskuijl, de ajudarem judeus durante a guerra; de fato, Nelly foi uma colaboradora da Gestapo quando tinha entre 19 e 23 anos. No mesmo ano, no entanto, foi revelado que a informante tenha sido Ans van Dijk, uma judia que cooperava com os nazistas e revelou a localização de 145 pessoas entre 1943 e 1944. Ambas as suspeitas não foram comprovadas; no entanto, Karl Silberbauer, o oficial responsável pela prisão do grupo, relembra que o telefonema do informante partiu da "voz de uma jovem mulher". Por outro lado, em 2019, a Casa de Anne Frank publicou uma nova pesquisa sugerindo que a ida de oficiais até o edifício comercial da Opekta Works tenha sido uma provável fraude na distribuição de cupons de alimentos, cujas atividades ilegais estavam em processo de investigação; apesar da nova descoberta, não foi descartada a possibilidade de traição.


Deportação e morte. Em 3 de setembro de 1944, integrantes do Anexo Secreto fizeram parte do grupo que foram deportados para o que seria o último transporte do campo de concentração de Westerbork para o de Auschwitz, chegando após uma viagem de três dias; no mesmo trem, estava Bloeme Evers-Emden, natural de Amsterdã, que iniciou uma amizade com Anne e Margot Frank na instituição de ensino para judeus em 1941. Bloeme relembra ter visto com regularidade as irmãs e Edith Frank em Auschwitz, sendo entrevistada diversas vezes para relatar suas memórias sobre elas no campo de concentração, incluindo no documentário The Last Seven Months of Anne Frank (1988) por Willy Lindwer, bem como para o especial da BBC, Anne Frank Remembered (1995).


Após o desembarque em Auschwitz, a Schutzstaffel forçou uma divisão entre homens, mulheres e crianças, com Otto Frank sendo separado do restante de sua família. Após uma avaliação inicial, os que foram considerados aptos para o trabalho foram admitidos, enquanto os inaptos para cumprirem as tarefas do campo foram imediatamente executados; em relatórios divulgados, dos 1.019 passageiros do trem, 549 — incluindo todas as crianças menores de quinze anos — foram enviados para as câmaras de gás. Anne, que havia completado quinze anos três meses antes, foi uma das pessoas mais jovens poupadas da morte que haviam chegado naquele transporte. Posteriormente, ela foi informada de que mais da metade dos passageiros haviam sido mortos nas câmaras de gás após o desembarque e nunca teve conhecimento de que todo o grupo do Anexo Secreto havia sido selecionado para executarem o trabalho forçado. Imediatamente, ela pensou que seu pai, Otto Frank — com mais de cinquenta anos e não particularmente robusto —, teria sido executado após a separação.


Em companhia de todas as mulheres e garotas aptas para o trabalho do campo, Anne foi forçada a se despir para ser "desinfetada", teve sua cabeça raspada e foi tatuada com um número de identificação em seu braço. Durante o dia, elas eram usadas para o trabalho escravo, forçadas a carregar pedras e cavar rolos de grama; à noite, eram amontoadas em barracas superlotadas. Mais tarde, algumas testemunham relatam que Frank se tornou uma garota retraída e triste, principalmente quando viu crianças serem levadas para as câmaras de gás; outros, no entanto, narram que ela demonstrava com frequência uma postura forte e corajosa. Sua personalidade extrovertida e confiante permitiu que obtivesse rações extras de pão para sua mãe e irmã. Em campos de concentração, as doenças tornavam-se cada vez mais frequentes; em pouco tempo, a pele de Anne foi gravemente infectada pela sarna. As irmãs Frank precisaram ser transferidas para a enfermaria, local em um estado de escuridão e infestado por ratos e camundongos. Edith parou de comer, guardava cada pedaço de comida para suas filhas, passando alguns alimentos para elas por um buraco feito na parede nos fundos da enfermaria. Em outubro de 1944, Anne, Margot e Edith foram selecionadas para embarcar em um trem com destino à um campo de trabalho na Alta Silésia; por outro lado, Anne foi proibida de se juntar ao grupo por não ter se recuperado da infecção e, desta forma, sua mãe e irmã decidiram permanecer em Auschwitz.


Entre outubro e novembro de 1944, começaram as seleções de mulheres para serem realocadas para o campo de concentração de Bergen-Belsen. Mais de 8 mil mulheres, incluindo Anne, Margot e Auguste van Pels, foram transportadas; Edith Frank, no entanto, ficou para trás e morreu de fome. Ao passo em que a população em Bergen-Belsen aumentava, foram erguidas tendas para acomodarem a abundância de prisioneiros; no mesmo período, as doenças no campo se tornavam cada vez mais frequentes. Em Bergen-Belsen, Anne se reuniu brevemente com duas amigas, Hanneli Goslar e Nanette Blitz, que estavam confinadas em outra seção. Ambas sobreviveram à guerra e discutiram sobre as breves conversas que tiveram com a jovem através de uma cerca. Blitz descreveu Anne como "careca, magra e trêmula"; Goslar, por sua vez, observou que Auguste van Pels estava com elas e cuidava de Margot, naquele momento gravemente doente. Blitz e Goslar relembram que Anne acreditava que seus pais estavam mortos e, por essa razão, ela não queria mais viver. Mais tarde, Goslar estimou que seus encontros com Frank ocorreram no final de janeiro ou início de fevereiro de 1945.


No início de 1945, uma epidemia de tifo se espalhou por todo o campo de concentração, matando cerca de 17 mil prisioneiros. Outras doenças, incluindo febre tifoide, também eram frequentes. Devido à essas condições, não é possível determinar o que causou a morte de Anne; testemunhas declaram que Margot caiu de sua cama em seu estado debilitado e foi morta pelo impacto — sua irmã faleceu um dia depois. As datas exatas das mortes das irmãs Frank são desconhecidas. De acordo com testemunhas oculares do campo de concentração de Bergen-Belsen, elas começaram a exibir sintomas de tifo a partir de 7 de fevereiro; conforme levantado por autoridades de saúde, infectados pela doença que não se tratam podem falecer até doze dias após o início dos sintomas. Em 15 de abril de 1945, prisioneiros do campo foram libertados pelo Exército Britânico; posteriormente, o local foi queimado para impedir a propagação das doenças. Entre outros mortos e executados, Anne e Margot foram enterradas em valas comuns de um local desconhecido. Depois da guerra, estimou-se que apenas 5 mil dos 107 mil judeus deportados dos Países Baixos sobreviveram ao Holocausto.


Após o final da guerra, Otto Frank foi o único membro sobrevivente do Anexo Secreto. Ao retornar para os Países Baixos, foi amparado por Jan e Miep Gies — amigos que o ajudaram durante o tempo em esconderijo — enquanto tentava localizar sua família. Ele soube da morte de sua esposa em Auschwitz, mas manteve-se esperançoso em relação a sobrevivência de suas filhas. Depois de algumas semanas de busca, descobriu que Anne e Margot também haviam falecido; ao mesmo tempo, tentou localizar o destino dos amigos de suas filhas e soube que diversos deles haviam sido assassinados. Sanne Ledermann, frequentemente mencionada no diário de Frank, foi morta numa câmara de gás na companhia de seus pais; sua irmã, Barbara, uma amiga próxima de Margot, foi a única sobrevivente da família. Entre outros sobreviventes da guerra, estavam os parentes de Otto e Edith que, anteriormente, haviam fugido da Alemanha em direção à Suíça, Reino Unido e Estados Unidos durante a década de 1930.


Diário de Anne Frank. Em julho de 1945, depois que a Cruz Vermelha confirmou a morte das irmãs Frank, Miep Gies entregou à Otto Frank o diário e um maço de notas soltas que ela havia recolhido na esperança de devolvê-los à Anne. Mais tarde, Otto comentou que não havia percebido que ela tivesse mantido um registro tão preciso e bem escrito durante o seu tempo em esconderijo; além disso, descreveu o processo de leitura como "doloroso", reconheceu os acontecimentos narrados no diário e lembrou que já havia ouvido alguns dos episódios mais divertidos lidos em voz alta por sua filha. Otto comentou que havia visto pela primeira vez o lado mais privado de Anne naquelas seções do diário que ela jamais discutiria com ninguém, observando: "Para mim foi uma revelação... Eu não tinha ideia da profundidade de seus pensamentos e sentimentos. Ela guardou todos esses sentimentos para si mesma". Movido pelo constante desejo de sua filha em tornar-se uma autora, ele começou a considerar a possibilidade de publicá-lo.


O diário começou para servir como uma expressão privada dos pensamentos da jovem; ela escreveu várias vezes que jamais permitira que alguém tivesse acesso ao seu conteúdo. Anne descreveu abertamente sobre sua vida, sua família, seus companheiros de esconderijo, a situação em que se encontrava e desenvolvimentos políticos da guerra, o que ajudou que ela desenvolvesse a ambição de, posteriormente, escrever uma ficção para que fosse publicada. Em março de 1944, enquanto ouvia uma transmissão de rádio feita por Gerrit Bolkestein — um membro do governo neerlandês no exílio situado em Londres — ficou sabendo de seu interesse em criar, após a guerra, um registro público para divulgar provas escritas do povo neerlandês sobre a opressão sofrida durante a ocupação nazista nos Países Baixos. Frank decidiu que iria submeter seu trabalho quando esse momento chegasse; desta forma, ela começou a editar sua escrita, removeu algumas seções e reescreveu outras. Além disso, seu diário original foi complementado por folhas soltas de cadernos que ela havia colado sobre algumas páginas. Na intenção de preservar as identidades de membros do Anexo Secreto, bem como de seus respectivos ajudantes, Anne criou pseudônimos para cada um deles; por exemplo, a família van Pels tornou-se Hermann, Petronella e Peter van Daan, enquanto Fritz Pfeffer foi nomeado como Albert Düssell.


Para produzir a primeira versão divulgada do diário, Otto utilizou suas folhas originais (conhecidas como "versão A") combinadas com as que foram editadas pela jovem após o anúncio no rádio (conhecidas como "versão B"). Apesar de restaurar as identidades verdadeiras de membros de sua família, ele manteve os pseudônimos criados por Anne para cada um dos membros e ajudantes do Anexo Secreto. Mais tarde, entregou o diário para a historiadora Annie Romein-Verschoor que tentou, sem sucesso, publicá-lo. Verschoor entregou seu conteúdo para Jan Romein, jornalista responsável por desenvolver um artigo publicado no jornal Het Parool em 3 de abril de 1946, onde avaliou que o diário "gaguejado pela voz de uma criança incorpora toda a hediondez do fascismo mais do que qualquer evidência exposta nos Julgamentos de Nuremberg". A matéria atraiu atenção de editoras, fazendo com que a primeira edição do livro fosse divulgada nos Países Baixos em 1947,seguida por mais cinco edições em 1950; naquele ano, estreou em livrarias da Alemanha e da França. Em 1952, após ser rejeitado por diversas editoras, foi finalmente colocado para comercialização no Reino Unido e nos Estados Unidos. Apesar de tornar-se um sucesso de vendas em diversos territórios, falhou em atrair atenção do público britânico e deixou de ser produzido.


Além do sucesso comercial, o livro foi recebido com aclamação da crítica no Japão; foram distribuídas mais de 100 mil cópias apenas em sua primeira edição, o que fez com que Anne Frank rapidamente se estabelecesse como uma importante figura cultural no território, sendo referida como o rosto que ajudava a representar a destruição da juventude durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1955, Frances Goodrich e Albert Hackett desenvolveram uma peça de teatro baseada no diário, recebendo o Prêmio Pulitzer. Posteriormente, em 1959, foi elaborada uma adaptação do diário para os cinemas, acabando por vencer três das oito estatuetas em que era concorrente na 32ª edição do Oscar. Shelley Winters foi premiada na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, doando seu troféu para a Casa de Anne Frank. Historiadores reconhecem que as recorrentes dramatizações do livro contribuíram para a "sentimentalização e universalização da história de Anne", aumentando sua popularidade; além disso, o livro estabeleceu-se como objeto de estudo no currículo de diversas escolas dos Estados Unidos, ajudando a preservação de sua história para uma nova geração de leitores.